segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Relatos de um fujão

Neste livro, André Torres - como ficou conhecido um dos mais famosos presidiários da ilha Grande - expõe as vísceras do crime organizado no final da década de 1970 e início de 1980. Algumas frases colhidas no livro e em entrevistas dão conta da realidade vivenciada por êle naquele tempo em que as questões criminais comuns foram misturadas com situações políticas no âmbito do Sistema Prisional. André não foi preso político. Foi jovem da classe média envolvido com roubo de carros, inicialmente, e depois com assaltos a bancos após a sua fuga da Ilha. Na primeira tentativa fracassada de fuga foi espancado a socos e pauladas, conforme suas narrativas: “Permaneci calado. Entrou na sala o Sargento Vieira, paraíba analfabeto, guarda-costa do Diretor Maluco. Primeiro me olhou, depois me espancou com socos que acreditava ser demolidores. Quando percebeu que era apenas um homem frouxo, pegou um pedaço de pau, deu ordens pra começar a tortura.
Bateram à vontade. O Diretor Maluco saiu da sala, ele não bateu, só fez assistir. Voltaram a me torturar, eram seis carcereiros: Sargento Vieira, Agente Secreto Severino, um cabo da PM e três soldados. Não satisfeitos, me carregaram para a casa do Sargento Vieira, ao lado da casa do Diretor Maluco. Ali, numa sala imunda onde o sargento morava, nova sessão de torturas, com soldados se revezando para bater. Gritei para recuperar o fôlego. Bateram mais um pouco, fiquei caído no chão. Acordei dentro de uma cela no interior do presídio. Pensei: Inacreditável, estou vivo”
Na terceira tentativa, também fracassada, novas torturas: “Eu estava lá, em pé, vivo, para eles ameaçador e representava perigo. Os dois PMs gritaram para os outros. Logo fui cercado por uma dezena de PMs. Agrediram-me com socos, pontapés, mordidas nos braços. Ficaram surpresos com a minha aparência. Levaram-me em direção ao presídio, sempre me agredindo (...). Fui agredido por... para não pensarem que é exagero, direi apenas uns 20 PMs. Eram tantos, que alguns não conseguiram chutar o meu corpo. Fiquei sufocado. O sargento era o que mais batia. Diziam: Este vai cair da pedreira. Para que se possa ter idéia da agressividade bestial, dois prisioneiros que foram presos após a fuga morreram espancados. Caído no chão, quase morto, jogaram-me dentro de uma caminhonete. Fui retirado outra vez para ser agredido pelo sargento (...)” Uma fuga bem sucedida por André torres foi realizada com auxílio de uma jangada de bambu.
Fontes de consulta: Klepsidra - Revista Virtual de História e livro Exílio na Ilha Grande, de André Torres


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