sexta-feira, 18 de junho de 2010

Patrimônio Ameaçado

Nesta imagem aérea dá para sentir os efeitos das chuvas nas encostas da Ilha de boa Viagem em Niterói. Um patrimônio que se derrete sob as barbas da Prefeitura Municipal de niterói e também do IPHAN que há tempos sabe dos riscos de deslizamentos na Ilha e até hoje não tomou nenhuma providência. Há quase vinte anos o geólogo Claudio Martins da UFF elaborou relatório com análise dos locais de risco nesta Ilha, mostrando que as escadarias sofriam com o fenômeno conhecido como rastejamento ou creep. O relatório foi encaminhado na época à prefeitura e ao IPHAN, incluindo texto explicativo elaborado por professores da Escola de Arquitetura da UFF. Na época, a ilha era alvo de um projeto de Revitalização coordenado pela professora Aydil. Passados dezoito anos, nenhuma ação concreta foi tomada pelas autoridades, apesar deste patrimônio histórico-cultural integrar o Corredor Niemayer. Detalhe: o conteúdo geológico-geográfico do projeto foi apresentado em um Congresso Intenacional de Geografia realizado em Cuba onde despertou enorme interesse... enquanto aqui...!!!

Ilha da Boa Viagem

Durante as fortes chuvas de março de 2010, os morros de Niterói pareciam torrões de açucar. Por toda parte houve deslizamentos de encostas, soterrando mais de uma centena de pessoas. Na foto a bela Ilha de Boa Viagem, um patrimônio cultural com edificações seculares tombadas pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural. Aliás, esta pequena ilha é mais bela e mais rica do que parece: a igreja, o fortim, a escadaria e dois reservatórios gigantescos de água cavados no saibro e revestidos internamente por tijolos em terra-cota. Durante a invasão francesa no século XVII, foi o único lugar não tomado pelos invasores, graças à criação de animais, hortas e à agua armazenada nos reservatórios. As águas eram captadas em calhas junto aos telhados e desviadas para os reservatórios. Talvez seja o primeiro modêlo de sustentabilidade praticado no Brasil. E a prefeitura de Niterói nem dá bola para êste magnífico patrimônio histórico-cultural.



Bumba e Protesto

Os moradores do Morro do Bumba criaram uma Comissão representativa dos que sofreram com a tragédia a fim de reivindicar das autoridades municipais mais empenho para minimizar os problemas decorrentes da trágica avalancha, incluindo auxílio moradia e indenização. No local colocaram faixas para demonstrar sua indignação.

Bumba - imagem do Google Earth

Esta é uma imagem de satélite retirada do google Earth. O tracejado amarelo é meu e demarca a área do deslizamento. Tudo aquilo foi arrastado ao longo da linha vermelha. E na encosta ao lado, onde se lê lixo, há toneladas de detritos em situação de risco. Caso existisse na época a Lei de Crimes Ambientais, êste absurdo de entulhar uma drenagem levaria os responsáveis para a cadeia.

Bumba vista aérea


Esta foto mostra uma vista aérea do deslizamento no Bumba logo depois da tragédia. Compare com a foto postada logo a seguir e sinta a dimensão da avalancha que soterrou dezenas de pessoas e casas. É isso mesmo: em cima daquele monte de lixo apodrecido moravam mais de uma centena de pessoas. E a Prefeitura de Niteroi não sabia de nada, mesmo depois de asfaltar uma das vias de acesso e colocar benfeitorias. Aliás, colocar benfeitorias em área de risco é proibido por Lei e êste é um caso para o Ministério Público agir com rigor.

Bumba - solo antropogênico


Na foto o geólogo e professor da Universidade Federal Fluminense estuda o material do lixão que foi por êle classificado como um solo antropogênico, ou seja: um solo gerado pela ação humana. Caso a prefeitura de Niterói tivesse aprovado logo a criação do NITGEO, um órgão similar à GeoRio - conforme anteprojeto elaborado pelos professores Antonio Veloso e Claudio Martins - onde há uma metodologia completa para o mapeamento de áreas de risco em Niterói, esta área do Morro do Bumba teria sido logo classificada como de risco e dezenas de pessoas não teriam morrido.

Bumba Lixão

É verdade... construiram em cima de um lixão. E os governantes de Niterói ficam alardeando que o Município è o terceiro em qualidade de vida no Brasil. A máscara escorregou ladeira abaixo. Que fique bem claro: os riscos ambientais têm que considerados como indicadores para a definição do índice de qualidade de vida.