sábado, 24 de outubro de 2009

Lucio Flávio Vilar Lírio


"Bandido é bandido, polícia é polícia. Como água e azeite, não se misturam".
Esta é a mais famosa frase de Lucio Flávio Vilar Lírio. Mas quem foi exatamente este homem que passou quase inteiramente a vida adulta em presídios, principalmente em Dois Rios, Ilha Grande ? É muito simples dizer que foi um assaltante de bancos, de carros de entrega de mercadorias, de automóveis. Mas há algo de mais complexo na tecitura emocional e vivencial de presidiários. E com Lúcio Flávio não poderia ser diferente. Jovem da classe média mineira, nascido em 1944, filho de um funcionário público com uma professora de escola primária, louro, de olhos claros, frequentador de praias durante a juventude no Rio de Janeiro, sempre em grupo de amigos ... mas a personalidade estava sendo tecida por fios invisíveis que surgiam de novelos adormecidos nos escaninhos da alma.
A família Vilar teve que se mudar para o Rio de Janeiro com os oito filhos pequenos, se instalando em Benfica e Bonsucesso. Isto após desencontros políticos - não bem esclarecidos - de seu pai com o então PSD que foi extinto na época. Há inclusive relatos de que Lúcio Flavio sentiu-se profundamente frustrado por não poder concorrer a um cargo de vereador no Espírito Santo em razão da negativa de seu pai, que alegava dificuldades financeiras.
"... motivo de sua incursão no mundo marginal teve sua gênese na época da ditadura militar no Brasil; em uma festa de casamento comemorada por sua família, alguns policiais do DOPS adentraram em sua residência e propiciaram momentos de constrangimentos, como os vividos pelo seu pai, que teve o rosto introduzido dentro de um bolo, como também, o espancamento de sua mãe; Lúcio, ainda um adolescente à época, foi igualmente vítima de espancamento, essas agressões teriam sido frutos da época em que ele vivia, ou seja, sob a "mão" pesada do regime militar; como o pai de Lúcio era cabo eleitoral de Juscelino Kubitschek, e por esse motivo não queria informar o paradeiro de Juscelino, ele tornou-se mais uma vítima da opressão daqueles idos; devido a todos esses acontecimentos, aos 18 anos, Lúcio transformou-se em um bandido." Esta frase entre aspas foi copiada de Wikipédia.
Em 1969 foi desbaratada uma quadrilha de ladrões de carros no Rio de Janeiro em que Lúcio Flávio foi identificado como membro. Descobriu-se logo que não era apenas um simples integrante, mas uma das figuras principais, posição que aprofundou após o assassinato do líder da quadrilha Marcos Aquino Vilar.
Mas a estória é mais longa ...




quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Coração esmagado


"As ondas começaram a jogar a jangada pra fora do nosso rumo, a água molhava nosso corpo, depois percebemos o que era, estávamos perto de uma correnteza que nos puxava para o lado do Abraão, exatamente para onde não queríamos ir de maneira alguma, não seria uma correnteza que iria atrapalhar nossos planos (...). O perigo se apresentava, apareceram alguns cações para animar a festa e nos incentivar a remar mais rápido para sair do cerco dos carcereiros do mar, que têm chifre nas costas (...). Atravessamos uma enseada. Toda essa confusão aconteceu entre a Ponta dos Lobos e a dos Macacos. Atracamos numas pedras e dividimos o leite condensado e a água, cada um ficou com o seu facão (...). Remei para me afastar das pedras, senti a diferença de remar sozinho uma jangada de seis metros. Me afastei sem pensar no companheiro que deu com os burros n’água (...). A jangada ficou pesada, pensei em abandoná-la e prosseguir a nado apoiado em dois bambus. Explorei ao máximo a correnteza que puxava para o lado de Angra dos Reis. Lembro que atravessei várias correntezas. Bebi leite à vontade para me alimentar e manter a pressão alta. Depois pulei da jangada, me segurei e soltei dois bambus e tiras de corda fina (...). Subi na jangada e calculei minha posição, percebi que estava mais parto para o lado da terra firme do que do lado da Ilha Grande. Extraordinário! Esta seria uma encenação da minha tática de fuga, fazer os carcereiros crerem que eu tinha morrido afogado. Se encontrassem a jangada do outro lado, logo ficariam sabendo que atravessei. Por outro lado, encontrando a jangada no meio da baía, pensariam que eu havia morrido (...). Deixei a jangada à deriva e prossegui a nado empurrando o bambu. Eu empurrava o bambu e nadava até alcança-lo, e assim prossegui em direção à montanha negra que via em frente (...). Senti câimbra na perna esquerda, encolhi o corpo e permaneci imóvel apoiado no bambu até que a dor penetrante aliviou. Recomecei a nadar, mas sempre que forçava muito a perna esquerda, sentia novamente câimbra (...). Claro que a dor persistiu, mas com o mesmo método a dor diminuiu, e assim por diante...”
Êste é um trecho da narrativa de André Torres em seu livro Exílio na Ilha Grande.
Na foto, novo livro de André expondo as extensões das vísceras do sistema prisional no Estado do Rio de janeiro durante o tempo em que o vivenciou ...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Relatos de um fujão

Neste livro, André Torres - como ficou conhecido um dos mais famosos presidiários da ilha Grande - expõe as vísceras do crime organizado no final da década de 1970 e início de 1980. Algumas frases colhidas no livro e em entrevistas dão conta da realidade vivenciada por êle naquele tempo em que as questões criminais comuns foram misturadas com situações políticas no âmbito do Sistema Prisional. André não foi preso político. Foi jovem da classe média envolvido com roubo de carros, inicialmente, e depois com assaltos a bancos após a sua fuga da Ilha. Na primeira tentativa fracassada de fuga foi espancado a socos e pauladas, conforme suas narrativas: “Permaneci calado. Entrou na sala o Sargento Vieira, paraíba analfabeto, guarda-costa do Diretor Maluco. Primeiro me olhou, depois me espancou com socos que acreditava ser demolidores. Quando percebeu que era apenas um homem frouxo, pegou um pedaço de pau, deu ordens pra começar a tortura.
Bateram à vontade. O Diretor Maluco saiu da sala, ele não bateu, só fez assistir. Voltaram a me torturar, eram seis carcereiros: Sargento Vieira, Agente Secreto Severino, um cabo da PM e três soldados. Não satisfeitos, me carregaram para a casa do Sargento Vieira, ao lado da casa do Diretor Maluco. Ali, numa sala imunda onde o sargento morava, nova sessão de torturas, com soldados se revezando para bater. Gritei para recuperar o fôlego. Bateram mais um pouco, fiquei caído no chão. Acordei dentro de uma cela no interior do presídio. Pensei: Inacreditável, estou vivo”
Na terceira tentativa, também fracassada, novas torturas: “Eu estava lá, em pé, vivo, para eles ameaçador e representava perigo. Os dois PMs gritaram para os outros. Logo fui cercado por uma dezena de PMs. Agrediram-me com socos, pontapés, mordidas nos braços. Ficaram surpresos com a minha aparência. Levaram-me em direção ao presídio, sempre me agredindo (...). Fui agredido por... para não pensarem que é exagero, direi apenas uns 20 PMs. Eram tantos, que alguns não conseguiram chutar o meu corpo. Fiquei sufocado. O sargento era o que mais batia. Diziam: Este vai cair da pedreira. Para que se possa ter idéia da agressividade bestial, dois prisioneiros que foram presos após a fuga morreram espancados. Caído no chão, quase morto, jogaram-me dentro de uma caminhonete. Fui retirado outra vez para ser agredido pelo sargento (...)” Uma fuga bem sucedida por André torres foi realizada com auxílio de uma jangada de bambu.
Fontes de consulta: Klepsidra - Revista Virtual de História e livro Exílio na Ilha Grande, de André Torres


domingo, 18 de outubro de 2009

João Francisco, o Madame Satã

João Francisco, conhecido como Madame Satã, o maior brigão da Lapa no Rio de Janeiro nasceu no interior do nordeste em 1900, em ambiente tão miserável que foi trocado pela própria mãe por uma égua, quando tinha apenas sete anos. Sob as ordens de um comerciante sem escrúpulos, foi transformado em escravo. Mas uma senhora o trouxe para o Rio de janeiro onde ficou pouco tempo trabalhando numa pensão, a troco de comida e um colchonete para dormir. Passou a frequentar a Lapa, onde fez amigos em meio a operários, prostitutas e malandros e pessoas de influência social que frequentavam a vida boêmia. Na praça Tiradentes, passou a frequentar casas de espetáculos e em 1928 conseguiu se apresentar em um show como transformista. Quando jantava num bar da Lapa, recebeu desaforos de um policial que o reconheceu e o agrediu com um soco no rosto. João Francisco sai e volta em seguida para atirar no guarda, que morre no local. Preso, foi encaminhado para a Ilha Grande. Julgado, foi absolvido dois anos depois. Volta à Lapa, onde passa a trabalhar como segurança em bares. Mas foi somente em 1938 que recebeu o apelido de Madame Satã, depois de vencer um concurso de fantasias num baile de carnaval. Após muitas confusões na Lapa e muita surra em policiais, retorna preso à Ilha Grande, onde seria libertado em 1965. Volta à Lapa, mas já desiludido, retorna livre para o paraíso da Ilha Grande, onde veio a falecer em 1976. Sua trajetória é longa, mas deixou estórias de muitas brigas na Lapa, inclusive com policiais que não conseguiam segurá-lo. Ver em historianovest.blogspot.com

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

André Torres, o Fujão

“Num dia qualquer, saímos para trabalhar nas turmas; ao invés de trabalhar, extraviamos mato adentro, perto da casa do Bilinho, e não muito longe do presídio. Exatamente a uns setecentos metros de distância, Bilinho nos viu; foi imediatamente avisar ao diretor. Deram o alarme ...Eu e o Ronaldo corremos por entre as árvores ... Com os facões cortamos bambus da beira da praia .... Fizemos uma jangada, prendendo os bambus com tiras de lençóis, cobertores, barbante e cipó .... Preparamos dois remos .... Em duas horas fizemos a jangada e os remos ... Pegamos os facões, as camisas, as garrafas e os remos e colocamos sobre a jangada, em seguida empurramos a jangada para dentro d’água. Um de cada vez sentamo-nos na jangada, primeiro preocupados em não ter bambus suficientes para sustentar nosso peso. Notamos que agüentava. Remamos para nos afastarmos da praia. A noite não estava negra de impossibilitar nossa visão, o céu estrelado, a temperatura quente (...) André Torres

Igrejinha em Dois Rios


"Qual é a forma tradicional de tentar regenerar alguém? Trabalho e religião. Então, o que faltava era apenas a religião.
O padre de Mangaratiba, numa longa visita, procurou salvar as nossas almas. - Formatura geral. Era de manhã, o frio cortante nos arrepiava as cabeças peladas, estávamos no curral de arame. Organizaram-se as filas, o reverendo surgiu com o tenente Bicicleta, o oficial de beiço rachado, passeou algum tempo a examinar-nos, depois de colocar-se junto à grade, risonho, esfregando as mãos, um brilho de contentamento nos olhos. Sem dúvida nos julgava animais perigosos enjaulados. Entrava na jaula, mas sentia-se defendido, livre das nossas garras, e esfregava as mãos, satisfeito. Indisfarçável aquele ar de triunfo e segurança. Ficou alguns minutos em silêncio, o sorriso a espalhar-se em todo o rosto, em seguida iniciou a catequese num discurso mastigado, cheio de erros pavorosos. Nunca ouvi tanta besteira. Logo no princípio engasgou-se e recorreu atarantado a uma poesia do Conde Afonso Celso: ‘Seria enorme o crime não amar aqui a Deus’.
Atrapalhou-se muitas vezes, e sempre que isto acontecia largava a citação maluca; se havia no mundo lugar onde o amor a Deus estava naturalmente excluído, era aquele.” André Torres

Orígenes Lessa

Orígenes Lessa, protestante, nasceu em Lençóis Paulistas (SP), em 1903. Viveu no Maranhão durante a infância. Voltou para São Paulo quando jovem, tornou-se jornalista e tradutor. Em 1932, ingressou nas linhas constitucionalistas paulistas, onde foi preso e enviado ao presídio (Lazareto) da Ilha Grande. Após sair da prisão, continuou como escritor e jornalista, tendo sido eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1981.
Faleceu em 13 de julho de 1986.
Em seu livro Ilha Grande (do jornal de um prisioneiro de guerra), narra sua prisão, junto de milhares de soldados paulistas. passetti@klepsidra.net
“Um bocejo imenso e coletivo saúda a primeira manhã de Presídio. Alguns botam-se de pé, reagindo contra a moleza. Não há preparativos difíceis. Dormiram vestidos, sem tirar o sapatão, sem desapertar as perneiras, como nas noites pipocadas da trincheira. Saímos depois formados para a continência à bandeira. O quadrado de prisioneiros, no pátio, com os vestuários mais disparatados do mundo, olha a bandeira que se eleva com o olhar de quem espera, faminto, o toque de café. Só nos interessa comer.” Orígenes Lessa

Graciliano Ramos

Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL) em 1892. Escritor, manteve-se como comerciário, tendo se tornado prefeito de Palmeira dos Índios (AL). De 1930 a 1936, foi Secretário de Instrução de Alagoas. Demitido sob acusação de aproximação com os comunistas, foi preso. Passou por diversas prisões, entre elas, pela Ilha Grande (Dois Rios). Em 1937, foi solto. Em 1945, filia-se ao PCB e em 1952, viajou à URSS, morrendo no ano seguinte, vítima do câncer. Publicou diversos clássicos da literatura brasileira, como São Bernardo, Vidas Secas, e o Memórias do Cárcere, onde narra o período em que esteve preso. Em Memórias, critica duramente o governo, sua prisão e as instituições por onde passa. Na sua descrição, Dois Rios foi o pior presídio pelo qual passou: passetti@klepsidra.net
“Através das barras de ferro uma turba confusa me surgia de
chofre, corpos indecisos a mexer-se, em pé, de cócoras, estendidos, espalhando o surdo rumor já notado enquanto me raspavam a cabeça. Nenhuma particularidade, som ou visão, se destacava nessa balbúrdia. Apenas o novelo animado a desdobrar-se no escuro e o burburinho a rolar. Um cheiro desagradável, complexo, indeterminado, provocava tosse” Graciliano Ramos

Alcatraz jamais !!

Escombros do presídio de Dois Rios : Alcatraz jamais !!

“Virei-me, enxerguei um tipinho de farda branca, de gorro branco, a passear em frente às linhas estateladas. Era vesgo e tinha um braço menor que o outro, suponho(...). Um sujeito miúdo, estrábico e manco a compensar todas as deficiências com uma arenga enérgica, em termos que me arrisco a reproduzir, sem receio de enganar-me (...).O discurso, incisivo e rápido, com certeza se dirigia aos recém-chegados: Aqui não há direito. Escutem. Nenhum direito. Quem foi grande esqueça-se disto. Aqui não há grandes. Tudo igual. Os que têm protetores ficam lá fora. Atenção. Vocês não vêm corrigir-se, estão ouvindo? Não vêm corrigir-se: vêm morrer” . Graciliano Ramos

Encontro dos contrários

“Olhei pela janela, vi a sentinela parada em cima do telhado, depois andou, voltou a parar. Não saiu do telhado da enfermaria. Consultei o relógio, 21.55h. Faltavam cinco minutos para trocar a guarda. De duas em duas horas, os PMs se revezavam. Por esse motivo o PM permaneceu no telhado da enfermaria. Ele esperava ser rendido pelo colega. Se o outro PM ficasse ali parado, eu não poderia fugir. Continuei olhando (...). Vi trocar a guarda. O PM que substituiu o outro estava armado de revólver e começou a andar para não sentir frio e para melhor observar as coisas. Foi até o telhado da cozinha, acho que para cumprimentar a sentinela da guarita sobre o muro lateral, porque demorou quase cinco minutos para voltar (...). Os minutos passavam e eu observei todo o movimento da sentinela e dos PMs que passavam. Eram 23h” . André Torres
Em Dois Rios, á sombra da amendoira, fiquei pensando nos zigs e zags da vida e de que o tempo é capaz: de um lado um ex-detento, do outro um ex-policial... entre os dois um canoa surrada selando a paz !!!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Presídio implodido

Em abril de 1994 foi destruido o presídio da Ilha Grande localizado em Dois Rios. Foi para o espaço um modêlo baseado em Alcatraz. Na Ilha Grande, bandidos comuns foram misturados com presos políticos que incomodavam o Sistema.
"Em 1993, o presídio foi desativado. Em abril de 1994, foi semi-demolido pelo então Governador do Estado, Leonel Brizola. Foram inúmeros os presos “famosos” da Ilha Grande. Entre eles, destacamos os que escreveram sobre sua estada: Graciliano Ramos, Orígenes Lessa, Agildo Barata e André Torres. Mas, também passaram por lá o famoso Madame Satã (que passou a morar no Abraão após ser libertado), o atualmente deputado Fernando Gabeira, os revolucionários Flores da Cunha e Luiz Carlos Prestes, o escritor Nelson Rodrigues, além do
próprio Escadinha e de Lucio Flávio.
Em seu livro Ilha Grande (do jornal de um prisioneiro de guerra), narra sua prisão, junto de milhares de soldados paulistas – famosos e desconhecidos. Jamais tentou fugir, mas narrou diversas tentativas. Orígenes Lessa, protestante, nasceu em Lençóis Paulistas (SP), em 1903. Viveu no Maranhão durante a infância. Voltou para São Paulo quando jovem, tornou-se jornalista e tradutor. Em 1932, ingressou nas linhas constitucionalistas paulistas, onde foi preso e enviado ao presídio (Lazareto) da Ilha Grande. Após sair da prisão, continuou como escritor e jornalista, tendo sido eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1981. Faleceu em 13 de julho de 1986." www.klepsidra.net Gabriel Passetti passetti@klepsidra.net Mestrando - História Social/USP
Tudo se perdeu na poeira da implosão. Mas já havia um projeto secreto costurado por membros do governo estadual no sentido de aí implantar-se um hotel cinco estrêlas, ou seja, a praia seria privatizada e o local elitizado. Mas a população da Ilha e grupos ambientalistas lutaram para que o local abrigasse um centro universitário de Pesquisas e continuasse como área integrante do Parque Estadual.Hoje qualquer cidadão pode aproveitar a belíssima praia de Dois Rios, e pesquisas estão em andamento, especialmente no âmbito da Oceanografia.

Um dos rios de Dois Rios


Dois rios emprestam nome a uma praia paradisíaca da Ilha Grande onde funcionou por bom tempo o Presídio, desativado no governo Brizola. Na foto, um dos rios, com águas cristalinas refletindo o verde da Mata Atlântica.

Praia Dois Rios

Praia de Dois Rios, um lugar tão sossegado que até as marolas chegam de mansinho ... silenciosas.

Cantinho de Dois Rios


Vista aérea da praia Dois Rios, com área clara abaixo onde funcionou o presídio em cujas dependências ficaram presos personalidades políticas, entre elas Fernando Gabeira. Aí ficou também Escadinha, assaltante que protagonizou fuga audaciosa com auxílio de helicóptero. A mistura de presos com perfil ideológico e criminosos comuns redundou na fundação do famigerado comando vermelho segundo relatos de militares que alí serviram.
"São inúmeros os casos de prisões em ilhas. Caso extremo do isolamento social, geralmente estas penitenciárias são destinadas aos presos mais “perigosos”. Alguns dos exemplos mais famosos são a prisão de Napoleão Bonaparte na Ilha de Santa Lúcia, e a famosa “The Rock”, o presídio de Alcatrazes, nos EUA. Prender alguém dentro de um presídio em uma ilha significa ao menos duplicar a dificuldade de sua fuga. Quando esta ilha está em alto mar, ou cercada por tubarões, as chances de escapar são ainda menores. O caso da Ilha Grande, é então emblemático: a ilha está localizada no meio de uma baía. De um lado, o Oceano Atlântico com altas ondas, do outro, quilômetros de mar povoado por tubarões e cações até a chegada ao Continente. Fugir do presídio, neste caso, nem era o mais difícil. Depois disso era preciso atravessar a Ilha e conseguir de alguma maneira chegar à terra firme. A Ilha Grande foi, portanto, transformada em ilha-cárcere. E disto, foi transformada em ilha-masmorra.
Todos os presos temiam a fama daquele lugar. Além de ser praticamente impossível fugir, o tratamento dispensado lá era dos piores. Como afirmou o carcereiro da época de Graciliano Ramos, os presos não iam para lá para serem recuperados, mas sim para morrerem. O mar ao redor e sempre à vista é a simbologia da liberdade, oposta pelas altas montanhas de mata fechada: " www.klepsidra.net
“Os que sabem nadar afrontam as ondas, com seu simbolismo convidativo de liberdade. Mas apenas ganham cinqüenta, sessenta metros de distância, apita o sargento, o corneteiro dá o alarme, o nadador é forçado a regressar. Aliás a cem, duzentos metros da praia, tubarões, cações e tintureiros evolucionam muitas vezes...”

Presídio Dois Rios

O presídio da praia Dois Rios foi desativado no governo Brizola e parcialmente demolido. As edificações periféricas, incluindo a antiga residência do diretor, hoje abrigam um Centro de Pesquisas criado para servir de apoio a estudos de universidades.
A foto retrata quadro do artista insulano D`Zizito
Foram inúmeros os presos “famosos” da Ilha Grande. Entre eles, destacamos os que escreveram sobre sua estada: Graciliano Ramos, Orígenes Lessa, Agildo Barata e André Torres. Mas, também passaram por lá o famoso Madame Satã (que passou a morar no Abraão após ser libertado), o atualmente deputado Fernando Gabeira, os revolucionários Flores da Cunha e Luiz Carlos Prestes, o escritor Nelson Rodrigues, além do próprio Escadinha e de Lucio Flávio.
Em seu livro Ilha Grande, Orígenes Lessa (do jornal de um prisioneiro de guerra), narra sua prisão, junto de milhares de soldados paulistas – famosos e desconhecidos. Jamais tentou fugir, mas narrou diversas tentativas. Seu livro mostra a super-lotação da prisão, o desespero e o desânimo, do ponto de vista de um preso de guerra:
“Um bocejo imenso e coletivo saúda a primeira manhã de Presídio. Alguns botam-se de pé, reagindo contra a moleza. Não há preparativos difíceis. Dormiram vestidos, sem tirar o sapatão, sem desapertar as perneiras, como nas noites pipocadas da trincheira. Saímos depois formados para a continência à bandeira. O quadrado de prisioneiros, no pátio, com os vestuários mais disparatados do mundo, olha a bandeira que se eleva com o olhar de quem espera, faminto, o toque de café. Só nos interessa comer” . passetti@klepsidra.net

Riacho do Lazareto

Se êste belo riacho falasse êle contaria estórias de um Imperador contemplativo, estudioso e reflexivo; estórias de piratas alucinados que encheram aí os seus tonéis, sedentos de água, sangue e ouro; estórias dos guerreiros Tupinambás que se banhavam em suas águas; e estórias angustiantes de prisioneiros que gemiam bem ao seu lado, nas bolorentas e escuras celas do Lazareto.

Portal do Inferno


Este portal, com grades mais ao fundo, está voltado para o riacho que desagua na praia Prêta. O piso das celas está quase ao nível do mar, e todo o conjunto de celas estava sob o prédio do Lazareto que foi destruido no (des)governo de Lacerda. Uma perda inestimável em termos históricos, principalmente pela beleza e requinte de sua arquitetura.

Masmorra ditatorial


Texto do escritor Graciliano Ramos, uma, dentre muitas criaturas humanas de muito valor que estiveram prêsas na Ilha Grande: A Tora - “Era um castigo medonho, pior que a cela, e apenas se infligia a homens robustos e perigosos. Estavam separados de nós. Às vezes, pela manhã, durante o curto banho de sol, víamos essas criaturas em fila, conduzindo troncos pesados. Vagarosos, passavam a pequena distância, a vacilar, trôpegos, vergando ao peso da carga. As pontas dos madeiros apoiavam-se nas cabeças, nos ombros, e os infelizes arrastavam-se, dois a dois, jungidos pela horrível canga. Se um fraquejava, tombava, o companheiro via-se coagido a serviço duplo, no cocuruto uma rodilha, a trave em cima, equilibrando-se mal, as extremidades a subir, a descer. Aquilo formava uma gangorra sinistra, o espigão em marcha ronceira, titubeante. Avanços, recuos, tombos, quase impossível a geringonça manter-se em posição horizontal. Se se desconchavava, o sujeito era obrigado a arrasta-la. Polícias, com sabres desembainhados e açoites, não concediam trégua no duro esforço”

Terreno do Lazareto, hoje.


No início da década de 1960, o então governador Carlos Lacerda mandou destruir o prédio do antigo Lazareto após uma briga com o então Ministro da Justiça Abelardo Jurema. No local restaram as masmorras do antigo presídio e as palmeiras da época do Imperador D. Pedro II. O presídio foi implantado já na época Republicana. Nos tempos do Lazareto, o Imperador descansava e desenhava nêste belo pedaço do litoral. Alguns desenhos estão hoje no Museu Imperial de Petrópolis. Na realidade, as terras hoje sob administração do Governo do Estado, incluindo tôda a área do Parque Estadual, pertencem legalmente ao Governo Federal. Segundo a Lei Federal nº 3752, de 14 de Abril de 1960, somente os serviços federais que funcionavam na cidade do Rio de Janeiro passariam para o então novo Estado da Guanabara. Êste fato, aliado à exuberância e integridade da biodiversidade, e ainda à realidade histórico-cultural e dos recursos paisagísticos da Ilha Grande sugerem a possibilidade de transformá-la num Parque Nacional, conforme venho sugerindo há décadas a alguns ambientalistas e admiradores dos encantos da Ilha.

Por quê destruiram o Lazareto ?

A pergunta sem resposta: Por quê destruiram o Lazareto? Esta estrutura em pedras, na praia prêta, sustentou o antigo hospital Lazareto edificado no Reinado de D. Pedro II para servir de local de inspeção sanitária e quarentena para tripulantes dos navios que chegavam ao Brasil. Eram tempos de cólera no mundo. Porém, aos poucos o local foi servindo de presídio, e em 1894 ficaram presos aí os insurretos da "Revolta da Armada" que foi chefiada pelo almirante Custódio de Melo. Mais tarde, em diferentes contextos, figuras influentes da sociedade estiveram prêsas neste lugar, destacando-se Edmundo de Macedo Soares e Silva, Orígenes Lessa e Graciliano Ramos. As celas ficavam sob o piso do prédio, por detrás desta estrutura em pedras que aparece na foto, e um pouco acima do nível do mar.

Quintal do antigo Lazareto


Uma raríssima foto do Lazareto. Repare as palmeiras nesta foto...são as mesmas da foto anterior em que deixei o mar pelas costas. Nesta o fotógrafo tem o mar pela frente lá por detrás do telhado. Talvez o fotógrafo tenha sido o próprio D. Pedro II, que foi notável fotógrafo à sua época, inclusive com um excelente acervo das Pirâmides do Egito. Tema para pesquisa...

Praia do Imperador ( Lazareto)

Em agosto de 1889, o Imperador D. Pedro II estava nesta bela praia. Há exatamente 120 anos,S.M. pernoitou no Lazareto,trazido pelo famoso encouraçado Aquidabã. Foi a sua penúltima visita à Ilha Grande, pois três meses depois os barões do café conseguiram o que há tempos planejavam: destituir do trono êste excepcional administrador que tanto amou o Brasil. Nas ruinas do Lazareto envolto pela mata, esquecido e desprezado, adormece um banco de pedra onde o Imperador descansava após suas caminhadas.

Lazareto: pintura de J. Peregrino

O Lazareto foi construido no final da década de 1880 a mando do Imperador D.Pedro II com objetivo de inspeção sanitária de embarcações e tripulação que chegassem ao porto do Rio de Janeiro. Na época a cólera era uma grande ameaça mundial. Em 1849, a fragata inglesa Apollo e seus tripulantes, alguns acometidos pela doença, ficaram em quarentena na enseada de Palmas. O hospital do Lazareto, edificado após a compra das Fazendas de Dois Rios e do Holandês, em 1885, passou a funcionar como local de inspeção e internação de doentes. O Lazareto foi construido, em grande parte, com material importado da França, Inglaterra e Alemanha e foi equipado com o que havia de melhor no ramo de fogões, lavatórios, louças, etc. Em 1902, começou a receber presos políticos a mando do marechal Floriano Peixoto, após a Revolta da Armada. Do Lazareto restam apenas as celas, ao lado da praia Preta,junto a Abraão.

Aqueduto do Lazareto

O aqueduto do antigo hospital Lazareto e depois presídio da Ilha Grande é obra da engenharia portuguesa, mas em estilo e técnica romanos. Repare os arcos similares aos Arcos da Lapa no Rio de Janeiro. Este monumento histórico está inserido no Parque Estadual da Ilha Grande.

Praia do Lazareto ou Preta


Belo regato, com águas cristalinas, desembocando ao lado das celas do antigo Lazareto. Um aqueduto localizado mais acima captava as águas que abasteciam o antigo hospital e posteriormente presídio. Aí ficava o presídio antigo que foi demolido durante o governo de Carlos Lacerda. O presídio da praia Dois Rios foi demolido no governo de Leonel Brizola.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Caminho para a Praia Preta

Êste caminho sonolento em direção à praia Preta, com Abraão ao fundo, é uma boa opção para uma esticada no final da tarde. Melhor ainda quando os cajueiros emolduram a tela com seus doces frutos amarelos

Praia Preta ou do Lazareto


Bem pertinho de Abraão mora a praia Preta recheada de magnetita, mineral magnético. Em pleno verão é impossível deitar nestas areias porque ficam bem quentes. Com certeza é uma praia cheia de magnetismo, capaz de atrazar nossos relógios...que bom !!!

Praia da Aroeira

Nesta praia localizada nas proximidades de Lopes Mendes morou um cidadão austríaco chamado Peter, mas era conhecido como "Alemão". Durante muitos anos adotou toda a região como se fosse proprietário, chagando a patrulhar a área com um veículo recheado de capangas armados e com cães. Nunca consegui entender como pode um cidadão estrangeiro andar armado, fazendo patrulhas em terras brasileiras e com veículo motorizado, o que sempre foi proibido na Ilha Grande !!! Na ilha somente viaturas do governo podem circular. O mais curioso é que alí na praia de Lopes Mendes existia um aeroporto para pequenos aviões, o que ainda pode ser visto no Google Earth. Isto aconteceu nas barbas da Polícia Militar, que foi responsável pelo patrulhamento da ilha durante muitos anos. Muito ... muito extranho... !!! O gringo chegou ao ponto de povoar riachos com jacarés e dizem que chegou a introduzir cobras cascavés no local ... Um belo dia sequestraram o gringo, roubaram suas armas e o deixaram de cuecas lá na Rio-Santos !!!

Onde estão as telhas coloniais ?


Em Palmas algumas casas do período colonial resistem bravamente a saques ao patrimônio histórico-cultural. Repare a beleza bucólica desta casinha, onde mentes egocêntricas e mãos sorrateiras levaram as telhas coloniais.

Palmas


Em palmas, as sombras de coqueirais e amendoeiras nos convidam a um bom descanso ouvindo a melodia de ondas preguiçosas. Mas a partir daí Lopes Mendes nos espera, após uma caminhada de hora e meia atravessando morros ondulados e paisagens deslumbrantes.

Brincando de navegar


Lopes Mendes, década de 1990: Crianças brincando de navegar, adulto brincando de capitanear eu brincando de fotografar e canoa de Guapuruvu que não sai do lugar. Mas o tempo levou-nos a viajar.

Praia de Lopes Mendes


Lopes Mendes, uma das mais belas praias da Ilha Grande, está lá estendida nos braços do Atlântico nos convidando para a cumplicidade com a beleza e o frescor de suas águas cristalinas e azuladas. Aí o espírito de liberdade parece aflorar em toda a sua plenitude. Era um dos locais preferidos do saudoso Ayrton Senna para suas caminhadas, depois de pousar alí com seu helicóptero.

À sombra do Abricó


Aqui em Lopes Mendes tudo é endorfina, preguiça no corpo, sossego na alma. À sombra deste abricó, me esparramei, desplugado e deletado, olhando para as montanhas do Sul de Angra lá no horizonte.
A foto é antiga, não sei onde navega hoje o Corsário Negro, mas o que importa é a bela paisagem de Palmas, onde mora o sossêgo e o murmúrio das marolas. A casinha guardou por muito tempo os encantos da arquitetura colonial, mas foi descaracterizada nos últimos tempos.

Bromélias

Ecossistemas ainda preservados recobrem o solo da Ilha Grande. No interior das bromélias outras vidas se multiplicam. As flores destas espécies são tão pequenas em seu interior que elas precisam colorir as pontas das folhas para atrair os insetos polinizadores.

Peruca Verde


Ao longo dos caminhos as rochas cobrem-se de epífetas. São cactáceas e bromeliaceas que se esparramam nos blocos de rochas, especialmente nos costões litorâneos

Visita do Barbeiro


De quinze em quinze dias, Abraão recebe a visita do barbeiro que vem de Angra para cortes de cabelo e apara de barbas. os fregueses marcam na folhinha os dias de chegada e a maratona começa. Com um pouco de sorte você poderá cortar o teu antes de pegar a trilha em direção a Palmas ou então a Abraãozinho, que fica alí perto.






terça-feira, 13 de outubro de 2009

Trilha para Lopes Mendes

Neste cantinho de Abraão onde até os barcos parecem querer adormecer no lençol branco da praia, começa a trilha que nos conduz a Palmas, Aroeiras e Lopes Mendes. Uma pequena caminhada nos conduz a Abraãozinho, uma tímida e belíssima praia de águas verde-esmeralda. Até Palmas leva-se uma hora e meia. No início, haja pernas por meia hora. Depois, vamos descendo sob a copa de grandes árvores e com riacho no caminho. Palmas é um encanto, com muitos coqueiros emoldurando a praia ao lado de uma pequena comunidade de pescadores. No final há um belo hotel encravado em meio à floresta. Ao lado, uma bela e gelada represa de águas cristalinas. Lopes Mendes é alcançada por uma trilha que começa no canto de Palmas. Mais uma hora de caminhada e uma extensa praia deserta, com mar em quatro cores: cristalino, verde, ciano e ao fundo o azulão anil do oceano.

Barco de Guapuruvu

Ao lado da praia da Julia, na trilha para Abraãozinho, mora o pescador Ari, que nas horas vagas fica sentado à beira-mar com um pequeno canivete e um pedaço de guapuruvu. Aos poucos, vai surgindo uma traineira em suas mãos habilidosas e que logo em seguida ganha mastros e cores para navegar num mar de encantamento.

Pita em explosão de alegria

Em primeiro plano uma pita, vegetal típico do nosso litoral, que se prolifera em restingas e reentrâncias de pedras. Seu pendão ainda tem sido usado na confecção de estivas para a subida de canoas. A praia da Júlia está espremida entre os dois cordões rochosos e possui águas esverdeadas e areias grossas. Sua paz costuma ser compartilhada por micos e caxinguelês velozes que parecem deslizar nos troncos dos angicos à beira-mar. Ao fundo vemos a Vila do Abraão.

Na praia do Abraão ainda existem vestígios dos tempos coloniais. Esta casa com portas em pinho-de-riga e telhas canais dos tempos antigos resiste à modernidade. Aliás, a Ilha já foi ocupada por Fazendas com grandes canaviais e posteriormente cafezais, como foi o caso da Fazenda de Freguezia de Santana. Durante o Ciclo do Ouro houve evasão em massa da mão-de-obra insulana em direção a Minas Gerais, provocando um forte decaimento nas atividades agrícolas. Na foto, em segundo plano, as montanhas do Parque Estadual da Ilha Grande, com o famoso pico conhecido como Bico do Papagaio. Saindo de Abraão, uma trilha sob árvores gigantescas cobertas de orquídeas e belas epífetas, passando sobre muitos regatos murmurantes e cristalinos, nos conduz ao pico do Papagaio de onde podemos avistar toda a Baia de Angra e o oceano com a ilha Jorge Grecco. É bom avisar: a caminhada é pesada e dura quatro horas até o pico. Não deve ser feita sem Guia. Com sorte você sentirá um arrepio ouvindo os roncos turbinados dos bugios.

Cantinho de Abraão

O tempo parece congelado na Ilha Grande. O bucolismo, o silêncio nas praias de areias bem branquinhas e o leve murmúrio de marolas preguiçosas deixam nosso corpo leve como as folhas e nossa alma impregnada de alegria. Uma alegria diferente...como aquela suscitada pelo aroma das flores. Veja a singeleza da casinha à beira-mar. Aí está a canôa do Seu Antonio Caratinga, muito usada pela Zezé durante as coletas de lixo nas praias da Ilha. Neste ponto começa a trilha que nos conduz a Palmas, Aroeira e Lopes Mendes.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cão contemplativo

Abraão é nossa base logística onde cada olhar é uma releitura do belo. Aqui até o cãozinho charmoso se delicia com a paisagem.

Barca da antiga CONERJ


A chegada da barca da antiga CONERJ ao porto de Abraão sempre representou uma grande alegria, tanto para os moradores como para os visitantes que aguardavam ansiosamente amigos e parentes. O porto fervilhante, abraços e beijos esfuziantes, carrinhos e bolsas num vai e vem e depois do burburinho o silêncio...e três apitos: lá vai a barquinha de volta.

Praia de Abraão


Saveiros, veleiros, traineiras, areias em matizes pastel, murmúrio suave de ondas e cheiro de mato. Quintais arenosos, grumixamas, pitangas e cambucás. Nas trilhas... aroma de jacas, frescor de águas correntes e alegres trinados de pássaros. À noite...céu estrelado, corpos cansados, abraços e beijos.

Enseada de Abraão


Enseada de Abraão com o Parque Estadual da Ilha Grande ao fundo. Local de parada obrigatória para navegadores. No canto direito da foto está a Praia Preta, com areias contendo magnetita e um riacho de águas cristalinas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Chegando em Abraão

Chegando à Ilha Grande, o visitante toma ciência das leis mais importantes do Código Florestal, lendo esta placa afixada junto à estação das barcas. No entanto, algumas pessoas, inclusive moradores, são vistos nas trilhas com orquídeas retiradas das matas. Alguns mergulhadores veranistas insistem em retirar as grandes e belas estrelas-do-mar que povoam o fundo da enseada. Um tema que deve ser estudado e disciplinado é o Ecoturismo, especialmente nas temporadas de verão. Torna-se uma febre os aluguéis de casas, barcos, terrenos para camping. Só faltam alugar casinha de cachorro prá anão. Já vi arvores centenárias sendo derrubadas para ceder lugar a barracos de aluguel nos fundos dos quintais. Outro ponto importante: O numero de visitantes aos locais mais importantes excedem a capacidade de suporte das trilhas.


A Vila Abraão é a principal localidade da Ilha Grande.Aí estão localizados os centros administrativos da Ilha, com destaque ao INEA, responsável pela fiscalização ambiental. Destaco, ainda, a falta de entrosamento entre tais setores, especialmente em aspectos do Plano de Diretor voltados para a ocupação do solo e sanitarismo (bocas de esgoto em Abrão). Porém, vamos aproveitar a Natureza e curtir os encantos da Ilha.




Ilha Grande, um paraíso tropical encravado no litoral do município de Angra dos Reis. Coberta por densa floresta ombrófila,antes denominada floresta pluvial, é um banco genético representativo da denominada Mata Atlântica. Possui 105 praias, verdadeiros piscinões naturais com águas esverdeadas e uma fauna onde destacamos os bugios, arredios, misteriosos, ocultos na densa e bela floresta. Seus roncos no final da tarde são de arrepiar. Realmente, um pedaço de paraíso, porém sem a devida preocupação por parte dos administradores, uma vez que a especulação imobiliária e o intenso movimento nas trilhas durante as temporadas de verão, colocam em risco a integridade dos ecossistemas.


O litoral de Angra apresenta-se recortado em função de rupturas ao longo de sistemas de fraturas do embasamento cristalino. O ambiente tem suas origens em basculamento de compartimentos lito-estruturais e posterior afogamento devido a transgressão marinha. Trata-se,portanto, de um ambiente afogado.